domingo, 26 de dezembro de 2010

Novo livro de Márcia Sanchez Luz

Editora Protexto lança Quero-te ao som do silêncio!, livro de sonetos de Márcia Sanchez Luz, prefaciado pelo jornalista Caio Martins e quarta capa com comentários de Leila Míccolis, Rogel Samuel, Graça Graúna, Marco Bastos, Jorge Sader Filho e Airo Zamoner.





"Márcia trata a forma poética como artesã, dominando materiais e ferramentas nos limites das potencialidades. Entalha e esculpe, pinta e tece sem esforços, lapida e compõe em ritmo impecável, como que em métrica de cadência sinfônica.

Há que ter, todavia, inteligência e sensibilidade para deles auferir dimensões humanas tênues e vitais, pois Márcia torna-se, pela límpida criatividade e autonomia, numa referência para quem vive significados intensamente.

E nos chega suavemente e sem alaridos, transcendendo a mera alegoria e revelando, aliciente e plena, até do mais corriqueiro, a Poesia. "Quero-te ao som do silêncio!" é um convite a partilhar desse encantamento."


Caio Martins


Capa: imagem do quadro "Despida de Gravidade", do artista plástico Gustavo Saba, gentilmente cedida pelo autor.

Para adquirir o livro, basta clicar na capa ou no site da Editora.


sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Uma reflexão acerca do Natal


Presépio - Michelangelo


Nesta época do ano, como num ritual, todos queremos fazer um balanço de nossas vidas, mesmo sabendo que nada faremos, que tudo continuará igual assim que o Natal e a passagem de um ano para o outro acontecer.

Agimos como se fôssemos instituição bancária, comércio ou empresa – paramos tudo e, mesmo incrédulos com os resultados negativos, comemoramos. Tudo isto é irônico demais!

Está certo que rituais de passagem façam parte de nossa história de vida - eles marcam o fim de uma época e o início de algo desconhecido, que ao mesmo tempo fascina e assusta.

Assim, por que não aproveitamos este momento e refletimos acerca do que fizemos, do que acrescentamos às nossas vidas e à vida de nossos semelhantes? Por que não lutamos para ver nossos sonhos e metas realizadas? Por que, ao invés de pararmos tudo o que estávamos fazendo – simplesmente por razões comerciais que nos levam a um estado de total alienação – não olhamos para dentro de nós mesmos e fazemos uma autoanálise, tentando descobrir, lá no íntimo de cada um, o que nos impediu de seguir em frente na busca de nossos ideais?
Talvez porque seja muito difícil olharmos para nosso espelho interno e aceitarmos que não progredimos, não evoluímos, deixamos que a vida passasse, simplesmente...

Dentro da tradição cristã, Natal é o dia em que se comemora o nascimento de Cristo. Como vivemos numa sociedade consumista, o verdadeiro espírito do Natal se perdeu e o que vemos hoje é uma corrida desenfreada à procura de presentes para serem trocados na véspera do aniversário de Cristo, como se fôssemos, nós, os aniversariantes.

E temos, assim, mais uma festa pagã, apesar do caráter religioso que a data encerra...

Termino esta reflexão desejando a todos um Natal iluminado. Que ele seja todo feito de coisas boas, recheado com muita saúde, paz, alegria e amor. E que todos os dias de suas vidas possam ser assim. Afinal, não devemos buscar a alegria somente num dia do ano.

Márcia Sanchez Luz

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Fazendo as contas...




Tiraram-me os discos,
meus sonhos jogaram
na lata do lixo.

Deixaram-me os livros,
meus medos guardaram
junto aos meus rabiscos.

As noites que eu tinha
trocaram por dias
às vezes escuros
como o céu sem lua.

E eu me sinto nua:
coito prematuro
beirando a ironia
de uma dor rainha.

© Márcia Sanchez Luz

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Auras



Archeological Reminiscence - Salvador Dalí


Queria poder te contar
meus mais loucos sonhos
tão reais devaneios!
Viagens astrais...

Portais emanando a justiça
palidamente escondida
pelas mãos da humanidade
torta, fria, desumana.

Infinitamente maiores
do que jamais vislumbrara
surgem auras, alvas auras!
Leves dançam, giram, voam.

Polidamente me chamam
com natural cortesia.
Sussurram sons cristalinos
como água e vento se amando.

Corre o tempo e o tempo clama
retidão de sentimentos
coração aberto ao vento
lágrimas, doce momento.

© Márcia Sanchez Luz

Do livro: "No Verde dos Teus Olhos", Ed. Protexto, PR, 2007



sábado, 11 de setembro de 2010

Ser(afim) - Soneto de Márcia Sanchez Luz


Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças,
é conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas,
quanto das impossibilidades vividas.
(Arthur da Távola)






 




Deep In The Woods - Inga Nielsen


Quem encontra um Ser(afim)
tem na vida um anjo raro.
É feito do mesmo barro
com que Deus faz seu jardim.

Ele é todo de jasmins,
brota água fresca do jarro
que enfeita o que sempre é caro
aos olhos de um Querubim.

É bem difícil achar
no meio da multidão
um ser assim singular!

Há que segurar-lhe a mão,
fazer carinho, mimar
e agradar seu coração.

© Márcia Sanchez Luz

sábado, 7 de agosto de 2010

PARA UM PAI, QUE É MEU SONETO VIVO


Horseman - Wassily Kandinsky


Meu pai, o teu carinho é sempre alento
para que eu creia um pouco mais na vida,
no humano ser que neste mundo habita
e tantas coisas faz sem cabimento.

Nunca te faltam sábios argumentos
para deixar-me calma, quando aflita,
me perco em meio à dor de uma ferida
que insiste em maltratar meu pensamento.

E quando chega o medo a ti recorro
(com teus conselhos sinto-me amparada)
para guiar-me os passos intrincados

na trilha solitária que percorro.
Hoje o que peço, pai, é quase nada:
deixa eu te ter pra sempre do meu lado!

© Márcia Sanchez Luz

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Mascaradas



Não há porque cobrar de ti, amor,
o que tampouco posso dar de mim.
Posso porém pedir, veja-me assim
como semente forte em viço e cor

a alimentar teus sonhos de Pierrô,
quem sabe até quimeras de Arlequim
(todo vestido em tiras de cetim)
que após sorver um gole de licor

recobra forças antes escondidas
e vai atrás da amada Colombina
pra declarar, mesmo em total silêncio,

o afeto que era febre adormecida
(por falta de uma antiga lamparina)
e que hoje queima feito fogo intenso.

© Márcia Sanchez Luz

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Selo Presença Literária 2010

Um presente de Graça Graúna




Querida Marcia: inspirada na obra "Livros", de Van Gogh, criei o Selo Presença Literária 2010 para expressar minha grande admiração e gratidão as pessoas que expressam a difícil arte do dialogar por meio da literatura. É um selo humilde, mas é de coração.

Paz e bem,
Grauninha

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Obrigada pela linda homenagem, minha querida Grauninha!

Beijos carinhosos

Márcia

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Gentileza


Imagem: Google


Gentileza, meu infante,
não se compra, é pra quem tem;
ser amável, elegante
não custa nada a ninguém.

© Márcia Sanchez Luz

(Menção Especial no Concurso da UBT)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Ser Mãe...


Mãe e Filho - Gustave Klimt

Ser mãe é ser alguém que na alvorada
bendiz o brilho que anuncia o dia
trazendo a luz do sol em sintonia
com o burburinho de uma passarada.

Ser mãe é ser a doce madrugada
que põe um fim à mágoa doentia;
é ser também a força da magia
curando a febre que se faz calada.

Ser mãe é buscar sempre uma saída
para acalmar o coração inquieto
do filho que se fecha em seu afeto.

Ser mãe é estar atenta para a vida,
é ver além do amor que não deu certo,
fazendo de sua cria um ser liberto.

© Márcia Sanchez Luz

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O Outono


Giardino Autunnale - Van Gogh

O outono é como o vento em arrelia
tentando na manhã fazer alarde;
provoca um som que varre o fim da tarde
e não descansa quando acaba o dia.

O outono chega, avisa e principia
uma partida em que se vê, covarde,
a consciência da maturidade
sendo trocada pela hipocrisia

que degenera o ser em vital ciclo
e destempera a vida em plena lida
em busca de alegria desvalida.

O outono é folha morta em fim de ciclo,
é o tempo que passou em cada vida,
e tem o tom mordaz da despedida.


© Márcia Sanchez Luz

sábado, 20 de março de 2010

Soneto para o Dia Mundial da Poesia*


Poesia


Ninfa - João Werner


Vem pra cá, minha Poesia!
Diz o que devo fazer
durante estas noites frias,
quando é difícil viver!

Traz de volta o som que havia
nas notas do alvorecer,
nos semitons de outros dias
que me faziam vencer

manhãs de rondas infindas
(entre emoções e razões)
dentro de meu existir.

E assim o dia que brindas
será de intensas paixões
num corpo inteiro a sorrir.

© Márcia Sanchez Luz



*21 de março é a data decretada pela UNESCO para comemorar o Dia Mundial da Poesia.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Insensatez


Birth of Love - Vladimir Kush

Em mim desenhas ilusões sonhadas
e fazes das manhãs sazões infindas;
são primaveras dando as boas-vindas
às aves no horizonte emolduradas.

Por quais razões me acenas e me brindas
com teu olhar no céu – visões aladas?
Por que motivo as asas são cortadas
e as ilusões descobrem-se então findas?

Preciso achar um rumo diferente!
De insensatez ou de esperança ausente
o mundo está repleto, é dor sem fim.

Se eu descobrir na vida, finalmente,
o avesso da maldade (amor que ascende),
talvez eu possa a paz trazer enfim.

© Márcia Sanchez Luz

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Fortaleza


Don Quixote - Salvador Dalí

Se no destino há tristeza,
de encontro às pedras, eu sigo,
construindo a fortaleza
que me servirá de abrigo.

© Márcia Sanchez Luz

sábado, 16 de janeiro de 2010

Atitude - Soneto de Márcia Sanchez Luz



Não gosto de falar do que é banal
nem sei gostar do paladar imposto
(que altera a face do sabor composto
da vida em sua forma natural).

Não gosto de falar do que é causal
se não puder sanar o mal exposto;
nutrir a dor que transfigura o rosto
é perigoso, além de irracional.

Na vida busco sempre alternativas
que me assegurem o pulsar das veias
e me garantam sobras, se à deriva.

Assim o vento chega como brisa,
a dor imensa fica suportável
e a causa do tormento se ameniza.


© Márcia Sanchez Luz

sábado, 2 de janeiro de 2010

Carinho literário de Clevane Pessoa


Poemeto

Seja sempre iluminada e iluminadora:
A Luz do sobrenome
seja capaz de iluminar
todos os dias e sonhos das noites
desse seu novo ano...
Brilhe seu nome,
suas poesias
de sua POIESIS,
alumiem-se suas asas para muitos vôos..

Clevane Pessoa, para Márcia Sanchez Luz.


Clevane querida, obrigada pelo delicioso carinho literário! Começar o ano assim é motivo de grande alegria para mim.

Um beijo carinhoso,

Márcia

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Feliz ano 2500


Igor Fuser*

Neste novo ano de 2500 já não há exploração e opressão de um ser humano por outro. Já não existem diferentes classes sociais. Somos todos iguais. Não há mais divisão entre povos, nações e raças. Não existe racismo, preconceito, intolerância, xenofobia, discriminação. Descobrimos que somos todos de uma única raça: a raça humana, vivendo em uma grande e fraterna comunidade global.

Já não existe também a diferenciação de tarefas entre sexos e a opressão sobre as mulheres e as minorias. Homens e mulheres estabeleceram um pacto de absoluta igualdade. Além disso, todos têm direito de fazer livremente suas escolhas individuais, mas aprenderam a voluntariamente respeitar a opinião coletiva.

A última guerra foi antes de 2050, nem lembramos mais como fazê-la, até porque as armas foram destruídas. Até o século XXI, alguns homens chamavam de bárbaros todos aqueles que não acompanharam seu modelo de sociedade assentado na desigualdade e na ganância. Contudo, com suas bombas, sua violência, suas matanças em massa, conseguiam superar em bestialidade seu mais rude antepassado. Hoje, no entanto, reina a paz. Os homens se convenceram de que a sobrevivência da civilização dependia da cooperação e não da competição.

Aqui em 2500 já não temos mais fome, miséria, gente sem teto ou sem assistência, lutando por um prato de comida, por um simples casaco para se agasalhar, um buraco para viver ou dormir, uma vaga na escola; enfim, o homem se libertou da milenar ditadura do reino da necessidade, da escassez. Todos ajudam a todos.

É que a ciência, a tecnologia e a racionalização da produção avançaram a tal ponto que possibilitaram o atendimento de todas as necessidades humanas, com uma grande redução do tempo de trabalho para todos, que agora podem se dedicar a coisas mais nobres, como a educação, a leitura, a música, o cinema, o teatro, os amigos etc. São poucos os que não concluem a universidade.

E tudo isso foi possível sem violentar mais a Natureza e preservando as demais formas de vida no planeta. Descobrimos todos que não estamos sozinhos na Terra e que não temos o direito de destruir, unicamente para nossa satisfação, as demais espécies, muitas das quais estavam aqui bem antes de nós.

As fábricas, os automóveis, os aviões, hoje mais eficientes, já não poluem. A época na qual predominavam os combustíveis fósseis acabou faz tempo. Na verdade, preferimos mesmo é andar nos eficientes e limpos transportes coletivos e caminhar sob a copa das árvores para ir ao trabalho ou à escola. O ar é tão puro que até vemos as estrelas nos céus das grandes cidades.

A população mundial caiu progressivamente desde o ano 2050 e hoje não passa de três bilhões de seres. E como não se produz mais apenas para vender, para obter lucro, mas exclusivamente para atender ao uso humano, já não é preciso desmatar e muitas florestas foram recompostas. Com tudo isso, espécies animais antes ameaçadas de extinção voltaram a ter sua população aumentada. Os peixes retornaram aos rios antes poluídos das grandes cidades.

Aqui em 2500, os velhos valores consumistas do início do milênio foram substituídos por uma cultura diferente, superior, de modéstia e parcimônia. O que move a sociedade humana já não é a busca desenfreada pela riqueza, a ganância, o prestígio, mas sim a solidariedade entre todos e o bem coletivo. Excetuando os artigos de uso pessoal, as residências, os econômicos automóveis, quase toda a propriedade é coletiva. Os seres humanos descobriram que valem pelo que são, pelo que sabem, e principalmente por como tratam seus semelhantes, e não pelo que têm ou vestem.

Em 2500 também não há mais divisão funcional entre aqueles que pensam e decidem e aqueles que apenas cumprem ou executam as tarefas. Não há mais subserviência, medo, nem opressão. Todos decidem em igualdade de condições sobre aquilo que deve produzir ou fazer a sociedade. Até conseguimos viver sem chefes. Existe democracia real, não formal. A tecnologia nos conectou e aproximou a todos. Mesmo a colônia humana estabelecida em Marte tem participado das decisões.

Mas chegar aqui não foi fácil, a luta foi dura, custou muitos sacrifícios e até a vida de muitos. A resistência das forças conservadoras e irracionais foi grande. Até 2050, as guerras, a xenofobia, a forma irresponsável de exploração da Natureza, o aquecimento global, as doenças, o interesse mesquinho das corporações e dos grandes capitais colocou a humanidade à beira da autodestruição, do inferno nuclear, do retorno à barbárie dos guetos, dos campos de concentração, dos gulags.

Escapamos por um triz. Nossa espécie conseguiu derrotar aquelas forças representantes da pré-história e da ignorância humanas, abraçar outros valores e encontrar o caminho até aqui. Evidentemente, além dos conservadores, dos privilegiados, sempre houve os incrédulos, os céticos quanto à possibilidade de um outro mundo.

Felizmente, desde os primórdios da civilização sempre existiu quem defendesse uma cultura diferente. Não sei bem como se chama a sociedade em que vivo, deixo ao leitor dessa mensagem classificar. No entanto, sabemos hoje, em 2500, que sociedade anterior, na qual ainda predominavam o individualismo e o egoísmo, se chamava capitalismo.

Mas foi por volta do ano 2010 que muitos perceberam os perigos, saíram da inação e começaram a ativamente construir um mundo novo, a agir diferente. Por isso, numa máquina do tempo, voltei de 2500 para observar a virada do ano de 2009 para 2010. Era curioso. Ao ritmo do fuso horário, nas cidades em volta do mundo eles explodiam lindos fogos, confraternizavam. No meio de tanta confusão daqueles tempos, aquelas comemorações lembravam que poderíamos um dia ser um único mundo, uma única raça.

Apesar da brutalização do corpo social na época, pude constatar que, em certos momentos, nossos antepassados do século XXI ainda eram capazes de se emocionar, de chorar de alegria, de se encantar, se enternecer. Sem que soubessem de que época eu vinha fui até carinhosamente abraçado por alguns deles que estavam ao meu lado.

Antes regressar ao futuro, ali, numa praia do Atlântico, ofuscado pelos fogos, percebi que o grande projeto humano ainda era viável e como a vida é bela e valiosa. Agradecido a todos aqueles que ajudavam a construir meu belo mundo em 2500, desejei a todos eles um FELIZ 2010.


*Igor Fuser é doutorando em Ciência Política na USP, mestre em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação Santiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP), jornalista formado pela Cásper Líbero e Professor de Filosofia e Economia.